Feromônios caninos, o que são e para que servem?
Um colega de profissão me questionou acerca dos feromônios como sendo protagonistas na modulação comportamental de cães, e por conta disso resolvi fazer este texto para falar um pouco mais sobre este tema e esclarecer algumas dúvidas. Eu fico muito feliz quando recebo feedbacks, sejam positivos ou negativos, de meus textos e também quando me pedem para escrever mais sobre determinado tema, então se você tem alguma dúvida, elogio ou sugestão pode mandar um e-mail para rafael@meucaocompanheiro.com ou deixar um comentário abaixo.
A minha história com feromônios começa na Pós-Graduação de Manejo Comportamental de Cães e Gatos que cursei na PUC-PR entre os anos de 2010 e 2012, onde meus colegas eram super gateiros (isso, amantes de gatos) e sempre comentavam acerca de um produto chamado FELIWAY®. Num bate papo rápido e com uma pequena busca na internet, descobri que o FELIWAY® era um feromônio sintetizado de gatos e que os relatos acerca de seus benefícios para os felinos alcançavam o status de milagre.
Mas enfim, o que são os feromônios?
Os feromônios são substâncias químicas que são naturalmente produzidas por animais, disseminadas entre seres de uma mesma espécie e que promovem reações específicas em seus indivíduos, influenciando diretamente seus comportamentos e desempenhando um papel na comunicação intraespécie. São como a nossa impressão digital, usados pelos indivíduos para identificar espécies, membros do grupo e quem sabe gênero, talvez idade e estado de saúde. Feromônios também podem comunicar informações sobre receptividade, excitação, posição social e até os estados emocionais e também são utilizados para a demarcação territorial.
Dois fatos interessantes sobre feromônios
- A resposta ao contato com este odor é incondicional, ou seja, não é necessário a aprendizagem prévia
- É espécie-específico, podendo ser identificado o odor por outra espécie, mas não haverá significado para esta
Depois da minha “magnífica descoberta” fiquei pensando na possibilidade de haver um produto que fosse utilizado para cães, e para minha surpresa eu encontrei o ADAPTIL®, o feromônio apaziguador sintetizado para cães. Porém a empolgação com a nova descoberta virou frustração, porque em 2010-2011 não havia ADAPTIL® no Brasil, seu uso era liberado apenas fora do país. Estas regras impostas pelos órgãos e agências reguladoras são curiosas: enforcador de pino e coleira de choque pode, mas um produto que visa o Bem-Estar, não! Mas enfim…
Os relatos dos benefícios do ADAPTIL® eram muitos e a empolgação por poder contar com um produto que ajudasse a diminuir o estresse, a ansiedade e a reatividade em cães me fez procurar formas de encontrar o produto, ou até encomendar com amigos que viviam fora do país.
Como funciona?
Mas para entender melhor o efeito deste feromônio sintetizado, precisamos compreender como funciona o órgão sensorial que detecta o odor – o focinho canino. A detecção de feromônios é feita pelo órgão vomeronasal, situado no palato duro entre o nariz e a boca. Este órgão é dedicado a coleta e processamento de odores e tem uma conexão direta com os bulbos olfativos localizados no cérebro. Vale lembrar que a área dos bulbos olfativos caninos é 3 vezes maior em um cérebro 10 vezes menor, em comparação ao humano.
A detecção é muitas vezes acompanhada por uma expressão chamada flehmen (aquela lambidinha na urina e a tremilicada nos lábios) que serve para aumentar a percepção de um feromônio, e uma vez que este é detectado, é retransmitido para o bulbo olfativo no cérebro, e depois para o sistema límbico que regula o processamento emocional (Amígdala e Hipotálamo).
Os feromônios na comunicação canina são utilizados para reconhecimento (boca, face e área anal) e marcação de território com as patas (isso mesmo!), urina e fezes. É curioso que eles também podem afetar o estado emocional de outros cães, se um cão está sentido medo, ele cria um ambiente negativo e estressante para os outros.
Ok… E o ADAPTIL® onde entra nesta história?
Vamos lá, a fêmea lactante secreta o leite para alimentar seus filhotes, esse é um momento único, que gera uma ligação intensa materna-filial, onde a prole reconhece as tetinhas, e todo esse contexto se traduz num momento de diminuição de estresse e ansiedade, bem como traz sensações de bem estar. E esta foi a sacada dos cientistas que desenvolveram o ADAPTIL®, eles coletaram e sintetizaram o feromônio das glândulas mamárias de uma fêmea lactante, e esta cópia sintética é comprovada para ajudar os cães a enfrentam situações desafiadoras ou preocupantes.
Então este feromônio terá um efeito apaziguador canino e dará ‘apoio’ aos filhotes para que explorem e aprendam sobre o mundo ao seu redor, fator ‘reconfortante’ comprovado até em cães adultos. Este feromônio atuará diretamente no sistema límbico, responsável pelas emoções.
E desde então, o ADAPTIL® vem sendo utilizado na modulação comportamental com comprovada eficácia em vários protocolos, como por exemplo:
- no manejo de Ansiedade de Separação;
- em mudanças de ambiente;
- na socialização de filhotes;
- na chegada de um bebê na família/casa;
- estadia em hotéis e canis;
- em adoções e adaptações em novos lares;
- em preparação de viagens e transportes;
- e para o manejo de medo de fogos de artifício e barulhos…
Ano passado (2016) o ADAPTIL® desembarcou no Brasil nas apresentações difusor e spray e a CEVA (empresa produtora) espera a liberação da coleira e do comprimido. Esse produto facilita muito a minha vida, utilizo durante o treinamento e socialização, porque promove a aprendizagem e ajuda a garantir que os filhotes se tornem cães adultos mais resilientes, reduzindo assim a probabilidade de problemas de comportamento que se desenvolvem mais tarde na vida. Os cães precisam detectar muito pouco do feromônio para que haja a resposta desejada.
Em breve falarei mais sobre as formas de utilização e também irei relatar o que os artigos científicos comprovam. Até a próxima!
Rafael Wisneski
Adestrador Técnico-Comportamental
Treinador de Cães de Serviço e de Terapia